Bruxaria e Spam.
Quando fui iniciado, aprendi que um sacerdote deve sempre estar acessível – a porta do templo deve estar aberta e quem precisa deve sempre ser capaz de nos achar. Nunca sabemos quando e como seremos necessários, e por esse motivo apenas mantenho um perfil no Facebook.
Quando alguém pede para me adicionar, geralmente aceito (a não ser que seja um cristão ou alguém claramente desequilibrado), e pergunto como chegou até mim e no que posso ajudar.
Pois bem, ontem aconteceu algo que exemplifica muito bem a cloaca mundi que o paganismo aqui no Rio de Janeiro virou, e porque o dinheiro está matando a fé e fazendo que os círculos cada vez mais se escondam e fujam da publicidade.
Um perfil pertencente a uma mulher que se declarava sacerdotisa de uma Deusa Grega pediu para me adicionar – nunca a havia visto, mas como memória de Dragão depois dos 40 começa a ser menos confiável que político do PSL, já comecei pedindo desculpas e perguntando se a conhecia.
A resposta, através de um áudio (ah, o faux pas) foi algo como: “…nem te conheço, mas TRABALHO com terapia e massagem e estou ANUNCIANDO meu trabalho…“
Sim, é isso mesmo. Um perfil que se apresenta como sacerdotisa de uma Deusa Grega estava fazendo SPAM de serviços que nunca foram solicitados, para alguém que nunca a procurou, usando de uma pretensa formação como MARKETING pra ganhar DINHEIRO com a religião.
No que isso difere de um pastor evangélico?
Quando foi que o sacerdócio virou QUALIFICAÇÃO DE VENDAS e deixou ser sobre servir?
Eu gostaria muito de passar pelo menos uns dez dias sem ter que voltar sobre o tema dos vendilhões do templo – mas não deixam.
No caminho da Bruxaria Draconiana, ser um sacerdote exige, além do óbvio conhecimento e experiência mágicko-religiosa, noções de psicologia, política, liderança, saber e querer ouvir o próximo, e uma capacidade de prever as necessidades do próximo e ser capaz de oferecer uma mão amiga.
Aqui não se vende ou prostitui a Antiga Religião através de cursinho, workshop, livrinho e o escambau. Um Dragão prefere, e com um sorriso, lavar latrinas e varrer chão por uns trocados do que vender conhecimentos sagrados como produto. Não somos tão incompetentes que para sobreviver precisemos saquear templos e agir como cafetões do sagrado.
Ao comércio o que é do comércio, ao templo o que é do templo. Que cada um saiba seu lugar.
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.