Bruxaria Draconiana

Um lugar para falar de Bruxaria, Dragões, e Religiosidade.

Bem e Mal

Há uns dias atrás, alguém me perguntou sobre o motivo de não usarmos a chamada “moral cristã” dentro da Bruxaria Draconiana. O que pode parecer à primeira vista uma questão simples, na verdade pode se desdobrar em trezentas valiosas respostas – e até que eu consiga escrever algo assim, usarei o resumo abaixo como substituto.

Em primeiro lugar, não uso a moral cristã porque não é da minha índole me submenter ao conquistador e inimigo. Entre Dragões, a submissão só é vestida como máscara para a infiltração, como arma de guerra, e não nos é dada a opção de sermos “ecumênicos” ou “tolerantes” para que engulamos o spiel daqueles que massacram diariamente os de fé diferente com um sorriso, a qualquer título que seja.

Uma vez que isso fique claro, é preciso alertar que diferentemente do que pregam os filósofos da cristandade, a moral cristã não representa uma “evolução moral” dos povos antigos; se há dúvida, basta observar como a civilização cristã trata as minorias, o planeta, e os animais para observar que tal “evolução” na verdade se trata de um prefixo invertido.

Indo ao ponto central da pergunta, falar de moral é falar de conceitos como bem e mal. Primeiramente, é necessário entender que a divisão entre bem e mal é extremamente subjetiva e interna, e não reflete a complexidade dos dilemas éticos e morais de maneira adequada. O maniqueísmo simplista, tão em voga na política, reduz e limita, e por isso nos afastamos desta prática tola.

Para falarmos com profundidade de bem e mal, é preciso sopesar valores culturais, étnicos, e históricos, e construir o entendimento que a moral não existe num vácuo de “valores absolutos indiscutíveis”.

DEPENDER de rótulos infantis como “bem” e “mal” é condenar o intelecto à primeira infância, o espírito ao subdesenvolvimento, e se submeter a um maniqueísmo cretino que em nada ajuda a sociedade ou o indivíduo. Enquanto Bruxos e Bruxas, é necessário alongar o olhar além do rótulo conveniente, é preciso observar raízes e frutos, dosagem e preparo, antes de falarmos de moral.

Tal alerta nunca é em vão. Quantas e quantas vezes tenho visto o maniqueísmo raso e artificial do dualismo moral forçado e forçoso ser associado a uma prática, seja qual for (religião, política, arte, etc), parindo uma prática nefasta, conhecida como monopólio da virtude, em que um lado frequentemente chama para si, e somente para si, as virtudes praticadas por aquela sociedade, e relega ao opositor tudo que não é belo.

O mito de Narciso, na Bruxaria, deve ser apenas um mito, e não um modelo de comportamento.

Voltando ao “modelo cristão”, e o seu pai direto, a cultura semítica, percebemos lá um aparente monismo de virtudes, e um verdadeiro duoteismo em que o diabo/shaitan/lucifer possui quase todos os poderes de uma deidade, sem ser reconhecido como tal. Nesta cultura, que bebeu profundamente do Zoroastrismo, há uma transposição quase emotiva da figura paterna ao seu Deus, que acaba por contaminar toda a sua visão de mundo. É este, sinceramente, o modelo que devemos adotar?

Creio que não.

No caso dessa terrível abominação chamada cristandade, tudo que é pecado, vício, indesejável, sombrio, é um perverso reflexo do que a religião toma para si mesma: Os pecados não são as “anti-virtudes” a serem evitadas mas a própria ausência de virtudes com a “marca registrada” do cristianismo; subitamente, não pertencer àquele povo de escolhidos já é motivo suficiente para condenar alguém à uma eternidade de tormentos.

Na Bruxaria Draconiana, preferimos nos guiar por um outro foco: Uma vez que o homem finalmente se libertou ( na maioria dos casos) do monopólio da religião sobre a ética e a moral, foi possível examinar essa questão com a profundidade adequada, através do estudo da ética e seus desdobramentos, como a natureza do bem e do mal, os modelos de comportamento sociais, e a aplicação da ética nas questões cotidianas. Esse exame, que vai muito além de ler um livro de contos fantásticos, demanda trabalho e reflexão.

Se formos analisar pragmaticamente temas como bem e mal à luz da semiótica, entenderemos que desaparece dos termos qualquer tessitude moral, restando apenas aquilo que é desejado ou não pelos homens. Sob uma visão mais draconiana (com trocadilho!), bem e mal são apenas forças de marketing sociais.

E o marketing, caros leitores, muda de acordo com a necessidade do mercado. Lembremos que há não muito tempo atrás, torturar ignorantes ja foi desejavel, assim como praticar a sodomia com meninos de 12 anos, e outros tantos exemplos de práticas que são intoleráveis hoje em dia. Essa é a verdade incoveniente não encarada pelas religiões e varrida pra baixo do tapete, frequentemente às custas dos indefesos.

Aqui chegamos ao cerne da questão: Dentro da Bruxaria Draconiana, valores não são “justificativas” para nossos atos; pelo contrário, todos os nossos atos devem nascer e expressar nossos valores.

Sabendo que nossos valores, origem de tudo que somos e fazemos, não celebram os dogmas da cristandade, suas práticas, nem o efeito que sua fé causou à civilização (à começar, uns três séculos de atraso científico e social), parece auto explicativo que nossos conceitos de bem e mal vão muito além de sua desejabilidade, e não os utilizamos para a fundamentação de nossos atos através de um “bandaid” ideológico aplicado à doutrina.

Na verdade, tudo se resume a uma questão de causa e efeito, onde a cristandade inverteu essa razão com suas práticas. Nós não andamos de cabeça pra baixo, somos Dragões, não morcegos; por isso rejeitamos os “valores cristãos”em nossa caminhada.

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