Do lar e seus Deuses
“There is no place like home.”
― L. Frank Baum, The Wonderful Wizard of Oz
Sábios eram os Romanos e outros povos da antiguidade que reconheciam que cada lar abriga um Deus. infelizmente de lá pra cá, tanto se perdeu que frequentemente tenho a impressão que esquecemos muitas e muitas vezes o que pensamos que sabemos.
Sou obrigado a garantir aos mais inclinados à literalidade que o Deus de seu lar não irá, provavelmente, acabar com sua última cerveja ou deixar a louça suja na pia. Talvez, de vez em quando, derramar um copo se te esqueceres de oferecer tuas libações ou talvez deixar que pequenas desventuras te lembrem do seu desprazer (Lâmpadas se queimando em excesso e barulhos incovenientes são sempre um sinal).
Isso não quer dizer, no entanto, que ele (ou ela) será totalmente indiferente às realidades do seu lar. Os Deuses se envaidecem das obras de seus protegidos, e não é diferente com os Deuses lares: eles se orgulham de uma casa bem mantida, e em troca, ofertam sua proteção ao lar que também é deles.
Poss quase ouvir nos fundos da sala o muxoxo de bruxas enfeitiçadas pelo canto de sereia daquilo que chamam de feminismo hoje em dia, preparando-se para queimar os panos de pó e aspiradores (porque, convenhamos, uma bruxa queimar uma vassoura é um contrasenso), lembrando que Amélia já era. Pois então: Há uma diferença enorme em prestar-se a este papel para honrar um homem, um igual, e para honrar o lugar que habita.
Como filhos e filhas dos Deuses Antigos, não deveríamos defecar onde dormimos, ou estocar comida azeda, ou sequer deitar-se em meio à sujeira. Mas sempre há o cansaço, a tristeza e a falta de hábito. Estranhos são os companheiros com os quais nos cercamos, mas mais estranho ainda é aperceber-se disto e permanecer no erro.
Se o mundo é nosso altar, e tudo nos é sagrado, porque não nosso lar? É assim que tratamos nossos templos, então? Com que direito podemos reclamar das ovelhas conquistadoras que derrubaram nossos altares e calaram nossos sacerdotes se não nos levantamos nem para tirar o pó das estátuas…?
Honrem seu lar e seu Deus. Honrem seu abrigo e seu local de descanso. Honrem sua proteção, e serão protegidos em troca.
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.