Da Liberdade e do Pensamento
O segredo da felicidade é a liberdade. E o segredo da liberdade é a Coragem – Thucydides (460-404AC)
Desde que comecei a caminhar junto aos Antigos Deuses, tenho percebido que uma das maiores e mais palpáveis recompensas é a liberdade que tem me acompanhado. Não falo dos grilhões usuais (vergonha, preconceito ou visão dualística) pois tais nunca encontraram guarida em minha vida, desde cedo. Refiro-me a uma idéia, que também é um sentimento: Caminhar livre de pesos desnecessários.
Muito se perde ao se escolher os companheiros menos adequados à sua caminhada: frequentemente, a viagem ao invés de se tornar algo memorável, torna-se um borrão indistinto de aborrecimentos e só se deseja que tudo acabe rápido, como uma consulta de dentista. O curioso é que nestes momentos o tempo confirma sua natureza elástica – segundos tornam-se insuportáveis minutos, e o ser humano faz a única coisa possível nestes momentos: A tudo suporta e coloca sua mente em outro lugar, esperando que tudo passe, e rápido.
Não é isso que acaba acontecendo, com insuportável frequência, à medida que os anos se empilham sobre nossos ombros? A neve sobre os cabelos não acaba, por assim dizer, por anestesiar os sentidos e congelar o audaz espírito que nos acompanha? Tal percepção acaba por tirar de nós a magia do dia a dia, obliterando o caos que é um dom da Senhora dos Dragões, e quando percebemos, os anos acabam passando rápido demais.
Isto é o que chamamos na bruxaria de Espírito Sonâmbulo: Não se está acordado para o dom do presente, mas também não se está “apagado” a ponto de não se aperceber de que algo falta. O Espírito SABE o que esperar da vida, e como isto ocorrerá; estranhamente, ao invés disto trazer conforto, o que acontece é uma anestesia. O mundo passa a gravitar em torno do “meu” dia, “meus” problemas, “minha” vida. À todo momento nos pré-ocupamos do compromisso seguinte, ou escolhas que poderiam ser diferentes.
É, eu sei, não é o seu caso.
Será?
Você se lembra do seu primeiro pensamento consciente hoje, ao acordar? Da prece que fez antes de deixar o conforto do seu lar? Do gosto ou do cheiro do(a) companheiro(a)? E dos dias anteriores? Do último rito ?
Pois é.
Existem maneiras de despertar um Espírito Sonâmbulo. Nem todas funcionam, mas tenho certeza que certos exemplos possam ao menos inspirar a busca por esse “acordar”.
- O poder do “cagaço”. Um Dragão uma vez me disse, entre risadas, que o único poder que poderia mover o homem é o cagaço. Hei de concordar, uma vez que o grande motivador para que o conforto do sono seja abandonado é o medo. O que te desafia? Qual a sombra, o medo tão avassalador, que faz com que se mova? Encontre um desafio; faça todo dia algo diferente. Dança, Karatê ou aprender a tocar um instrumento, não importa: OUSE.
- O poder da janela. – Uma janela é muito mais que um buraco na parede. É uma maneira de observar algo que se esconde por detrás de uma parede. Saia do seu ambiente confortável: Mude o caminho para sua casa, ou para o trabalho. Apenas caminhe por uma rua diferente ou observe o mundo com mais intensidade – assim você voltará a ser parte dele.
- O poder do foco. Quando se coloca o foco em algo, ele aumenta. Então porque não colocar em algo que não seja em você, para uma mudança de perspectiva? Consegue apenas observar, sem embutir em seu foco suas expectativas, seus medos, sonhos e esperanças?
O pensamento é a chave da liberdade, afinal, a jaula está só na sua cabeça.
(inspirado pelo genial artigo da AlicePopkorn)
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.