Bruxaria Draconiana

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Escolhendo o Nome

É interessante a relação de identidade que temos com o nosso próprio nome, o chamado nome civil. Podemos ter vários apelidos – alguns carinhosos, outros jocosos, mas geralmente nossa identidade primeira está ligada de maneira quase indelével ao nome de “batismo”. O que, na minha opinião, é no mínimo engraçado, uma vez que ele nos é imposto quando não somos nada exceto uma forma de vida tentando se entender com mecanismos básicos de sobrevivência.

Daí em diante, só piora: somos doutrinados por repetição que somos o Felipe, a Renata, o Márcio… sem termos a maior parte das vezes consciência do peso dos nomes e seu significado. Diversas tradições religiosas e mágickas reconhecem o poder de nomear, ou seja, dar nome a algo ou alguém. Nomear é trazer a totalidade daquilo que está sendo observado em um símbolo ou sigilo que façam sentido ao nomeador e internalizar aquilo em seu microcosmo, tornando factível a interface e manipulação daquilo que antes era algo infinitamente mais complexo.

Sim, manipulação, em todos os sentidos. Se prestarmos atenção em como reagimos a diferentes nuances de voz e entonação quando falam nosso nome, perceberemos que certas respostas emocionais pré-definidas podem ser despertadas e moldar nossa resposta à frase seguinte sem que nos apercebamos do fato.

O que dizer, então, do nome mágicko, ou nome pagão, ou Motto? Porque encontramos vinte mil Morganas, milhares de Darkcrow Merlins e centenas de Lilith Ceridwens? À parte dos fenômenos de massa e da falta de orientação, o nome pagão deve ser um sinal, visível e externo, do caminho interno tomado pelo pagão em sua jornada em busca da própria fé. É bastante comum que ao descobrir a religião dos antigos Deuses, o pagão busque um nome mágicko como forma de ruptura com tudo que viveu até aquele momento: um nome imponente, cheio de mistério e brilho, que o diferencie dos demais.

Mal sabe aquele que trilha os primeiros passos que um nome mágicko possui uma carga muito maior que uma etiqueta ou uma roupa bonita. Ao escolher um mote, aquele padrão definido pelo nome se mescla ao seu caminho pessoal; querendo ou não certas características vão sendo absorvidas e certos eventos vão se repetindo. Daí vem duas regras que consideram básicas ao se escolher um nome mágicko:

Regra #1 : Se é para escolher um novo caminho, escolha algo que vá agregar uma característica ou força que você precisa. Se você é tímido, escolher o nome de “McMudinho  o envergonhado” não vai tornar sua vida especialmente mais fácil, assim como uma médica escolher o nome de Morrigan Macha Hécate Pandora não vai ser muito legal se ela for uma obstetra. O interessante é trazer um pouco do que você precisa (ou acha que precisa), temperado com uma força nova que permita que seu caminho floreça em uma direção diferente.

Regra #2: Se você é LOUCO O SUFICIENTE para trazer para si o nome de um Deus ou Deusa (é como querer encher um dedal com o Oceano), tente ao menos restringir o seu mote a uma face do Deus/Deusa ou uma característica. Isto ajuda a evitar que a associação de seu nome à divindade e sua egrégora acabe por queimar alguns “fusíveis”.

Além da finalidade de se trazer uma força ou característica para a vida do Pagão, o nome mágicko também ajuda a dissociar a vida cotidiana da vida religiosa – e isso não é uma invenção Pagã. Por exemplo, no mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, os monges ao serem sagrados  adotam um nome relacionado às características que desejam emular e para que sua identidade anterior seja abandonada, marcando um renascimento espiritual.

E esse é o foco de se escolher um nome Pagão: mais do que mera vaidade, ele deve representar um renascimento, seja este através de uma iniciação ou de uma epifania. E para uma sociedade tão atrasada como a sociedade brasileira, adotar um nome Pagão também confere uma medida extra de proteção: Um pseudônimo.  Desta maneira, a “persona” do dia a dia, que tem que pagar suas contas e ir na escola dos filhos ganha um certo disfarce para não ser atacada por fundamentalistas ou desajustados.

O nome mágicko também deve falar de sua essência. Diferente do nome civil, que nos é imposto, o nome mágicko é uma conquista, uma veste envergada com honra e galhardia: Parafraseando os antigos Taoistas e seus koans, ele deve ser sua face como era antes de nascer. O nome não deve ser bonito ou poderoso – o nome escolhido deve ser você.

E já que estou falando de nomes, por favor: Evite os títulos pomposos, ainda mais se estes forem seus primeiros passos na senda pagã. Um lorde é um senhor de terras e pessoas, assim como uma lady deve ser ao menos senhora de sua casa. E ter maestria não significa prepotência, arrogância ou ser mandão. Então, em prol de sua própria imagem e da sanidade dos demais companheiros de caminho, evite se intitular, por exemplo, de  Lord Hades Aragorn O Destruidor 418 ou algo do tipo. Isso só mostra sua infantilidade e ignorância.  Títulos são conferidos e reconhecidos, não roubados.

Por fim, certos nomes não são escolhidos – nos são sussurrados pelos Deuses. Pode acontecer, e se for o seu caso, ouse acreditar – você pode se surpreender.

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