Do que entendo por Paganismo
Paganismo, essa adorável quimera moderna. Muitos juram que sabem o que é mas se enrolam na hora de explicar aos recém-chegados do que se trata; o caminho mais utilizado parece ser o da repetição de etimologias (e já diria alguém mais sábio do que eu, que o mapa não é o caminho), às vezes colorido por alguns absurdos divertidos. Pensando nisso, decidi colocar aqui o que penso sobre a palavra, e que significado tem para mim.
Paganismo é uma religião. Não se trata de filosofia de vida, ecologia, feminismo, ou qualquer outra coisa. É o culto aos Antigos Deuses, sejam eles helênicos, babilônicos, egípcios, yorubás ou finlandeses. É por natureza politeísta, e não necessariamente possui o quinhão reconstrucionista.
Muitos dizem que obrigatoriamente, deve ser uma religião focada na terra. Aqui discordo, e questiono o quanto os sacerdotes de Zeus, Hórus ou Quetzacoatl se importavam com a ecologia. Não que consciência ambiental faça mal, de maneira alguma – mas a cada um, o que lhe pertence, e a ecologia é uma ferramenta de sobrevivência desta biota, não um mandato divino em geral. Não gosto de misturas, vez que frequentemente conflitos ideológicos são fomentados através de massas de manobra que consistem em sua grande maioria de “inocentes úteis”, que não percebem que suas lutas pouco possuem de religiosas e na verdade consistem pura e simplesmente da velha política humana.
Para o Paganismo, o divino (que vem dos Deuses) é imanente: Não nos preocupamos com um paraíso (ou inferno) pós vida. O que fazemos ecoa aqui. Existem ciclos, nada é criado do nada ou é completamente destruído, cabe ao Pagão identificá-los e navegar nas marés adequadas.
No Paganismo o sagrado é Feminino, É Masculino, É uma Samambaia, é plural. Não existe o “sobrenatural” pois tudo é “natural”; somente a percepção humana rejeita certos assuntos e sob o escrutínio de uma parte sua (e.g, “razão”) escolhe o que é mais palatável. O Paganismo não exclui temas ou áreas de sua atuação, é uma religião para todos os aspectos da vida.
O Paganismo é uma árvore generosa, que dá muitos frutos, entre eles a Wicca, o Druidismo, a Santeria, o Candomblé, os diversos reconstrucionismos, entre tantos outros. Muitas são as cores e os modos de se vivenciar o culto aos Antigos Deuses.
O Paganismo pode acreditar em reencarnação, ou não. Pode ter um carinho especial pelos elementos, mas seu maior dom é a liberdade: Cada homem e cada mulher é um filho/filha dos Deuses, livre para escolher seu caminho na Terra e ser tudo o que pode ser.
O Paganismo não é inimigo do Cristianismo ou de qualquer outra religião. Mesmos os que adoram outros Deuses, ou um só Deus, são irmãos em Gaia. O único inimigo do Paganismo é aquilo que interfira na liberdade dos filhos dos Antigos Deuses.
O Paganismo não celebra Sabbats ou Esbats universais. Cada linha possui seus dias sagrados, seus festivais, seus valores, como cada estrela possui sua orbe e seu brilho, compondo algo maior que a mera soma de vivências acumuladas por seus membros.
Definitivamente o Paganismo não tem lugar para um “Diabo”, no sentido cristão, assim como não possui para “pecado”, “inferno” e outros temas absolutos. Penso claramente que o único absoluto bem vindo no paganismo é a vodka.
Apesar de possuir pontos de intercessão, o Paganismo não é sinônimo de Bruxaria. Esta é uma técnica mágicka que não precisa, necessariamente, de um background religioso politeísta para ser eficaz (e.g, Rezadeiras).
Paganismo não quer dizer tão somente do campo, caipira, etc (“paganus – vide Plutarco, “lifes”) – assim como bruxa não quer dizer tão somente uma velha com uma verruga na ponta do nariz. As sociedades evoluem, as palavras igualmente, também o câncer – mas alguns seres humanos são notoriamente avessos à tal prática. Paganismo, definitivamente, não quer dizer “não cristão” – a explicação é muito simples neste caso: Islã. Por fim, Tertuliano que me perdoe, pagão não quer dizer “civil, não militar, incompetente” embora certamente se aplique em alguns casos.
Paganismo, embora se trate do culto aos Antigos Deuses não necessariamente possui práticas de 5.000 anos – aliás, grande parte do dogma e dos rituais foi formado há menos de um século.
Baseado em artigos de:
http://isle-of-avalon.com/pagan.htm
http://www.butler.edu/faith-vocation/explore-indy-religion/paganism
http://www.etymonline.com/index.php?term=pagan
http://www.witchvox.com/va/dt_va.html?a=usin&c=words&id=12806
http://www.arcane-archive.org/religion/neo-paganism/etymology-of-pagan-1.php
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.