Da prostituição do Sagrado
E não, não estou falando de prostituição sagrada. Olhe de novo para o título. Entendeu a diferença? Se não, pode parar por aqui, que hoje não me dirijo aos analfabetos funcionais.
Pergunto-me se estamos tão longe dos Deuses Antigos que eles não possam sentir o miasma e o fedor de fezes que toma de assalto o meio Pagão carioca. De modinha de revista, a filosofia, as religiões ditas “alternativas” hoje preenchem outro nicho: O ganha pão de parasitas que não tiveram capacidade de se colocar em seus respectivos nichos profissionais. Seriam professores, tradutores, engenheiros e outros tantos que se fossem minimamente competentes, não precisariam explorar a credulidade e a fé alheia – mas não, é bonito comprar, vender, alugar e estabelecer franquias do sagrado. Alguns dinheiros pra brincar de sacerdote, outros dinheiros pra fingir que é grego, saxão ou outra cultura excessivamente romantizada pelo escritor/roteirista da vez. E todos batem palmas, tudo é permitido. Nunca o mote do Caos foi tão verdadeiro.
Não é de hoje que falo da diferença entre um artesão, um sacerdote, e um comerciante, e que tudo bem desde cada um saiba onde seu caminho está. Sei que é uma batalha inglória, digna de moinhos. Compreendo que a grande maioria dos que seguem os Antigos Deuses não se aperceba dessa praga que ameaça estrangular a religião. Faz parte.
O que não compreendo é como pode um sacerdote oferecer o que não possui? Como pode colocar uma etiqueta de preço no céu azul, no solo, na morte ou em um sorriso? Nada disto possui; não possui procuração para falar em nome deste ou daquele Deus. Se uma sacerdotisa é solitária e amargurada, como pode “vender” o caminho para um relacionamento? Se um sacerdote vive nas barras da saia da mãe, como pode invocar o galhudo?
Não, isto não é sacerdócio, isto não é paganismo: é a prostituição do sagrado, é o estelionato mágicko tão em voga nestes dias. Uma iniciação paga o arroz, o feijão ou quem sabe um Iphone. Daqui a pouco estarão enfeitiçados pelo IGOD/ESS, ou seria o I, God? E não é esse o caminho. Tampouco participamos dessa pantomima comercial de feiras (Não obrigado, não VENDO meus Deuses), ou prestamos auxílio à fogueira das vaidades disfarçada de festinha americana onde todos são amigos, mas se estimula a criação de lado”A” e lado “B”.
Caminhamos “sozinhos”, com orgulho.
“Caminho na noite, com passos atentos, no caminho que a senhora de mil nomes me destinou. Que não haja amor, ou posses, ou vaidades que me afastem deste caminho, e que para o estranho eu seja invisível, mas para os filhos d´ela eu seja irmão.”
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.
Kalamar, gostei de conhecer sua postura sacerdotal pagã. Ela é peculiar, esclarecida, sem preconceitos e crítica. Fiquei impressionado com o seu entendimento e com as respectivas críticas, severas e corajosas, contra a podridão sacerdotal, que tomou conta do mundo, e que você rotula de “prostituição do sagrado”. Ou seja, críticas contra os “estelionatários” disfarçados de sacerdotes (padres, pastores, pais e mães-de-santo, intérpretes da cores, das pirâmides, etc.). Os quais enganam, alienam, submetem ideologicamente e exploram legiões de fiéis de senso comum, e mesmo muitos “ideólogos funcionais”. Este procedimento ilegítimo praticado pelo respectivo tipo de sacerdote consiste, por um aspecto, na banalização do que há de mais maligno, e por outro, na profanação do que há de mais sagrado. Mas, no Brasil, tal procedimento contribui, com as elites no poder, para a manutenção do controle social sobre as massas populares pobres. Em razão disto, essas elites atribuem legislação permissiva, ao referido procedimento maligno e profano.
Tenho um site e um blog, através dos quais, critico, freqüentemente, as picaretagens dos sacerdotes, e dos aliados destes, isto é, as elites políticas, jurídicas e econômicas. Neste sentido, costumo ancorar tais críticas, nos grandes profetas individuais (Amós, Oséias, Isaías, Jeremias, etc.). Os quais precederam o Profeta Maior, isto é, o Filho do Homem. Eu gostaria de legalizar uma religião inspirada neles. Ou seja, sem seguidores nem templo, mas crítica e exemplar. Legalização esta que serviria, também, como meio de me resguardar. Pois, receio que sacerdotes picaretas se respaldem, na aludida legislação permissível, a qual favorece o tipo de picaretagem que praticam, e assim possam me acionar juridicamente. Nesta direção, como eu deveria proceder?
Prezado Francisco,
Agradeço os elogios, mas essa postura é um reflexo dos que vieram antes de mim e ajudaram, com infinita paciência, a me formar como sacerdote. O mérito é dos meus professores e iniciadores 😉
Quanto à constituição da Associação religiosa, escrevi um guia aqui no cahybra, disponível em http://cahybra.com/index.php/registro-de-sua-organizacao-religiosa/
Espero que seja útil.
Um grande abraço,
Ps> Os caminhos dos Deuses nunca cessam de me surpreender, jamais imaginei que esse blog tivesse uma audiência cristã.