Porque o Paganismo?
Tive a idéia de começar esta série de pequenos textos sobre bruxaria e paganismo como um exercício para me habituar a escrever. Não tenho a menor pretensão de que se tornem uma fonte de conhecimento ou que provoquem grandes reflexões; creio que para este fim existam inúmeros autores mais qualificados.
As idéias aqui apresentadas refletem apenas meu entendimento e opiniões sobre o tema: não se tratam da política oficial de nenhuma instituição ou tradição que faça, ou tenha feito parte. Uma vez esclarecido tal fato, vamos ao ponto.
Passei por diversas religiões, por diversos motivos. Algumas como auto-iniciado, outras como iniciado (considerando o termo “iniciado” como aquele que é trazido aos mistérios religiosos através de rito(s) ministrado(s) por outrem), ouvinte ou simplesmente curioso. Foge ao objetivo deste texto fazer um rol dos caminhos passados, servindo ao ego ou dando uma errônea impressão de que este ou aquele caminho sejam “errados”. Mas pode acreditar quando digo que passei por estradas suficientes para algumas vidas.
Aí perguntam-me o que encontrei no paganismo para que nele me detivesse. Refletindo sobre esta pergunta, penso que falar sobre o que amo em minha escolha religiosa pode servir para esclarecer uma série de dúvidas comuns sobre o tema. Vamos lá:
Liberdade: O fato de não ser uma religião codificada e sistematizada há milhares de anos confere uma liberdade ao sacerdote/religioso ímpar, permitindo uma dose de experimentalidade e liberdade raramente encontrada nas religiões ocidentais. Sendo a liberdade um valor altamente prezado por mim, nada mais natural do que colocá-la em primeiro lugar.
Igualdade: Diferente de grande parte das religiões judaico-cristãs, no paganismo a mulher é considerada como igual e correspondente ao homem, tendo todos os direitos e deveres, sem justificativas religiosas para ser relegada ao papel de cidadã de segunda classe. Claro que estou ciente da contaminação de tradições pagãs por movimentos sociais feministas, mas não é nesta faceta que me detenho.
Responsabilidade: A exclusão de uma recompensa ou punição póstuma fazem com que o foco da religião se desloque necessariamente para o “agora”. A metáfora da teia e da roda colocam o homem como responsável pelo que é feito do mundo e de seus semelhantes, sem desculpas, sem justificativas. Ou você faz o que é necessário ou paga o preço, sem meio termo.
Ausência de Maniqueísmo: Sem essa de bem e mal perfeitos e apartados. Não estamos equipados para sequer conceber esses extremos, muito menos reconhecê-los. A percepção da escala de cinzas ajuda a compreender o mundo sem a visão infantil do papai ou mamãe que tudo sabe e protege seus bebezinhos das agruras do mundo fora-de-casa.
Escola de Mistérios: Assumir que existem vários caminhos para a evolução, e colocar o ritmo e as chaves nas mãos do buscador é reconhecer a capacidade e a maturidade do buscador. Se eu gostasse de pastor, teria encarnado como ovelha.
Magic(k): Sem receitas de bolo. Usar o método da ciência e a meta da religião é abrir mão da arrogância que grita a plenos pulmões que só o que é mensurado é verdadeiro. Aliás, questionar o adjetivo “verdadeiro” já ganha o meu voto.
Deuses: Emprestar faces e personalidades à pluralidade infinita do universo facilita nosso relacionamento com eles. Mesmo que tudo isso seja um grande teatro, é um teatro que me cativa e me traz uma paz de espírito que nunca experimentei em quanquer religião monoteísta.
Amor: Amar é compreender. E estar inserido, sem supremacia, na biosfera e saber o seu papel facilita compreender e ser compreendido. O perfeito amor e a perfeita confiança não é no humano à sua frente – é na mão dos Deuses que o trouxe até ali.
Fé: A Fé é algo construído dia a dia, que não depende de provas ou negociações. É um relacionamento íntimo com o universo, e as forças que o regem. É confiar nele e nunca ter que pedir desculpas.
Fraternidade: Onde todos são irmãos aos olhos da criação e todos podem ser sacerdotes se assim o desejarem, não há divisões exceto aquelas que os homens carregam consigo. Se alguma estrutura pode fazer nascer a fraternidade entre os homens, para mim é esta.
Estes são alguns dos motivos que me fizeram escolher minha religião. E vocês, quais foram os motivos que os levou à sua escolha?
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.