Magia Estelar
Abaixo segue uma resposta que dei a um membro do grupo de What’s App sobre Bruxaria que perguntou sobre como seria trabalhar com magia estelar, em especial “trabalhar com a energia das estrelas reais (assim chamadas em algumas leituras que já tive, não sei se procede): regulus, formalhaut, altares e aldebaran“. Acho o tema bastante interessante e é possíivel que seja útil para outras pessoas.
Trabalhar com magia estelar é uma coisa completamente diferente de trabalhar com elementos ou pontos cardeais; aliás, tudo que conhecemos em magia cerimonial e Bruxaria que envolve as “Atalaias de Observação/Watch Towers” vem de um imenso erro de interpretação sobre magia estelar persa.
Muito do que aprendemos sobre magia estelar vem da prática e através de segredos iniciáticos, então já adianto meu pedido de desculpas se por acaso o que eu escrever aqui não fizer tanto sentido na sua cabeça quanto faz na minha; magick é uma experiência extremamente individual e subjetiva e algumas vezes não se presta à transmissão entre um indivíduo e outro que não se conhecem e não estabeleceram um protocolo de transmissão e bases comuns sistêmicas para tal.
Isto dito, vamos à suas questões, interessantíssimas por sinal.
Eu confesso ter uma certa aversão virulenta à nomenclatura de estrelas REAIS, que por corolário exigiriam estrelas IRREAIS (Imaginadas?), raízes de índices pares de estrelas negativas (ok, fui longe demais com minhas piadas matemáticas), ou estrelas camponesas.
As estrelas de Regulus, Formalhaut, Altares, e Aldebaran são conhecidas dos humanos há muito, pelo menos desde a época do império persa (550 a.C). Lá, eles dividiam o céu em quadrantes geográficos por motivos didáticos, para facilitar o estudo apenas – e infelizmente toda uma geração de místicos nova era traçaram uma correlação disto com pontos cardeais e elementos, sem se atinar para princípios básicos de astronomia que colocam orientações geográficas como altamente questionáveis em galáxias e astronavegação…mas enfim.
“Como é dito que Tîstar é o comandante do leste, Satavês o comandante do oeste, Vanand o comandante do sul, e Haptôk-rîng o comandante do norte.”
Falar das quatro estrelas reais sem falar de Astrologia é quase impossível. E quando falamos de astrologia, não falamos de “adivinhar o futuro” ou se “o colega de quarto da minha prima vai voltar com a ex”. Falamos de modelos complexos de interação humana, baseados na simbologia de animais e monstros sagrados, estabelecendo correlações entre Tascheter e o Touro, Venant e o Leão, Satevis e o Escorpião, e finalmente entre Hastorang e os Homens-Peixe. Tais correlações se ancoram em pontos astronômicos como Solstícios e Equinócios, onde certos rituais e adorações são esperadas.
Um dos erros mais comuns na prática de magia estelar é não entender a relação de hierarquia entre as estrelas e achar que todas tem o mesmo “peso”, ignorando a força que, por exemplo, Venant tem sobre os presságios, ou a organização quase Goética das estrelas reais e as 6.480 outras estrelas conhecidas pelos persas. É importante estudar um pouco de Astrologia antiga para entender o pensamento dos antigos e aprender certos símbolos e correlações.
Um outro erro a se atentar, muito comum, é não corrigir o “drift” das constelações para a precessão dos equinócios; assim como desconhecer o simbolismo original e associar as imagens à astrologia moderna (falo de Varak (o Cordeiro), Tôrâ (o Touro), Dô-patkar (as Duas Personagens ou Gêmeos), Kalakang (o Caranguejo), Sêr (o Leão), Khûsak (a Virgem), Tarâzûk (o Equilíbrio), Gazdûm (o Escorpião), Nîmâsp (o Centauro ou Sagitário), Vahîk (o Capricórnio), Dûl (a Ânfora de Água), e Mâhîk (o Peixe), etc. );
Por fim, assim como na astrologia, o trabalho é feito entre “eixos” opostos e ângulos, não em pontos cardeais isolados.
É importante notar que as quatro estrelas não são consenso entre acadêmicos; há considerável conflito entre George A. Davies e Jean Bailly, por exemplo.
Enfim, para começar os trabalhos eu sugeriria você esquecer completamente os pontos cardeais e aprender a usar um software localizador de estrelas no céu noturno ou um mapa estelar; isto é variável por hora do dia, hemisfério, e latitude.
Uma vez feito isso, eu sugeriria um aterramento, com sua coluna vertebral como Axis Mundi, tocando o céu noturno. Se quiser ser fiel a tradição, tem um áudio em persa (neste link) da prece de abertura de trabalhos. Se não, pode ir para isso aqui:
“De todos os erros, eu me arrependo. Ashem Vohu….
(Recite uma vez de frente para Leste, Oeste, Sul e Norte respectivamente:)
>> Em homenagem a estes lugares e estas terras, e por estas pastagens, e estas moradas com seus fenos, e pelas águas, terras e plantas, e por esta terra e pelo céu, e pelo vento de Asha, e pelas estrelas, lua e sol, e pelas estrelas eternas sem começo, e por todas as criaturas de Asha de Spenta Mainyu, macho e fêmea, os reguladores de Asha. Ashem Vohu….”
Ao se dirigir para o leste depois de recitar a “prece às quatro direções”,invoque estrela Aldebaran, o olho vermelho da constelação de Touro Visualizar um grande Touro como parte da esfera celestial.
Ao olhar para o Oeste depois de recitar a “prece às quatro direções”, invoque à estrela Antares, na constelação Escorpião, e o calcanhar do Portador da Serpente (Ophiuchus). Visualizar um Homem segurando uma serpente em pé sobre um escorpião como parte da esfera celestial
Ao se dirigir para o Sul depois de recitar a “prece às quatro direções”, na constelação Leo . Visualize um Leão como parte da esfera celestial.
Quando voltado para o Norte, após recitar a “prece às quatro direções”, o chamado da estrela Fomalhaut, que está na corrente da constelação do Portador de Água (Aquarius), e na cabeça do Peixe do Sul (Pisces Australis). Visualize um Homem derramando água de um copo como parte da esfera celestial.
Recitar do próprio coração agradecimentos às forças e pedidos.
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.