O que (não) é Bruxaria Draconiana
Em qualquer lugar, aparecem “modinhas” de maneira cíclica: frozen yogurts, paleterias mexicanas, coxinhas pra viagem. Essas coisas vem e vão de acordo com o interesse dos comerciantes – e não são poucas vezes que estes pagam para colocar seus produtos em novelas, em influenciadores digitais, blogs e etc para criar uma demanda maior para seus produtos.
Tudo muito correto em nome do lucro e pagar os boletos. O grande problema é quando essa lógica do comércio é injetada na Religião e vemos coisas sagradas sendo transformada em produtos. Se depender dos comerciantes, o Paganismo está a um passo de virar uma Igreja Universal em nome da ganância.
Quem viveu tempo suficiente na senda pagã já viu isso acontecer algumas vezes. E parecer, pela quantidade de workshops, livros, lives que tenho visto que os Dragões voltaram à moda. Eu deveria ficar feliz – só que é difícil me alegrar quando tenho ouvido tantos relatos de coisas rasas e quinquilharias sendo vendidas como tesouros ancestrais.
A última vez que vi isso devia ser 2003. E antes dos Dragões eram as Deusas Negras, antes disso Fadas, Numerologia, Anjos e por aí vai. Parece que quando a fórmula se desgasta os comerciantes se desesperam e tentam empurrar qualquer coisa pra fazer dinheiro. E entre os novatos, bem intencionados, crédulos e infantilizados parece haver um grande mercado a ser explorado.
Vejam bem, qualquer um pode reciclar qualquer conhecimento de bruxaria ou magia cerimonial e ensinar a juntar uma salada ervas, uns rabiscos de criança em sal grosso, tudo isso feito de acordo com tabelas planetárias que já eram velhas quando inventaram a penicilina e meter num altar com imagens de Dragões.
Isso é Bruxaria Draconiana? Claro que não.
Mas e se invocar o Nome de Tiamat, Apsu, Fafnir, essa galera toda? Se dividir os pokemons Dragões em cores e ensinar a diferença entre um e outro?
Ainda não.
Mas e se imprimirem umas apostilinhas bonitinhas, uns pdfs da hora cheio de referências a escritores estrangeiros e rituais de 23 dias com um milhão de componentes difíceis de achar?
Na melhor das hipóteses é uma gincana do falecido Gugu Liberato.
Bruxaria Draconiana é a transformação do espírito Humano. É o Magnum Opus, o maior voo, e não se faz isso sem trabalhar seu íntimo e seus valores, de maneira muito mais agressiva e vitriólica que qualquer terapia. Sem Coragem, Honra, Humildade e Lealdade, você será apenas um grande cospobre de um desses Dragões em filmes de quinta. Um monte de CG ou espuma fingindo ser algo que não consegue ser.
Isso a Bruxaria Draconiana se recusa a fazer. Não batemos palmas para maluco dançar, não fornecemos elementos fantasiosos para pessoas fugirem no final de semana. Não serve para ser um fã clube pra fãs de Dragões, nem oferecemos um caminho rápido para o poder infinito.
O que a Bruxaria Draconiana faz? Retrabalha espíritos. Ensina valores ancestrais. Prepara guardiões e sacerdotisas para ajudarem, da melhor maneira que conseguirem, suas comunidades e todos os seres visíveis e invisíveis à sua volta.
E mais do que isso: procura fazer tudo isso em um ambiente familiar, com respeito e aceitação.
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.