Da serpente que expulsou o irlandês
Mais um dia de São Patrício e mais um monte de Pagãos comemorando esse feriado. Parece esquisito? Sim. Vamos falar de orientação e o que acontece quando se perde a noção de quem somos ou onde estamos?
Tenho visto por anos a fio pagãos celebrando o dia de Patrício – essa piada pronta que só pode nascer da ignorância e aculturação tão cultivada por essas vítimas da Nova Era. Um Pagão comemorar essa data faz tanto sentido quanto um rabino comemorando o holocausto. É burro, é incoerente, é imbecil.
Não batemos palmas para nem celebramos nenhum perseguidor de Pagãos. Não precisamos de uma desculpa social para beber. Sim, gostamos de cerveja boa (não essa lavagem tingida de verde) e por mais que alguns de nós simpatizemos com os Irlandeses (ou japoneses, ou nórdicos, ou Sioux) não somos tão infelizes a ponto de fingirmos ser um estereótipo ruim de outra cultura por uma noite.
Também não somos idiotas para ver a cristandade se apropriar de OUTRA festa nossa a fim de esvaziar as celebrações de equinócio (Ostara, etc.) e acharmos bonito.
Sabemos muito bem quem e onde somos. E se você celebra o dia de Patrício, tenha certeza que não é um dos nossos.
Não me interessa se as cobras que ele expulsou eram Druidas ou não (a propósito, diz-se que as últimas cobras encontradas na Irlanda datam pré-era do gelo). Não me interessa se ele não foi o único responsável por cristianizar a Irlanda. Não me interessa se ele na verdade passou pela Irlanda a fim de expurgar heresias cristãs. Ele era um missionário cristão.
Tão ruim quanto perseguição física é o policiamento ideológico. Os dois são cabrestos colocados por anos a fio pela cristandade àqueles que ousaram pensar e crer de forma diferente. E celebrar um missionário cristão, sob qualquer que seja a desculpa, é algo que qualquer filho dos Deuses Antigos deveria ter vergonha em fazer.
Ainda:
- Ele nunca foi irlandês.
- A cor dele nunca foi verde.
- O trevo não é o símbolo da Irlanda. É o símbolo da “Santíssima” trindade cristã.
PS> Patrício, como missionário, também não devia aprovar excesso de bebida. Parabéns, tanto as serpentes quanto o missionário acham você um idiota por usar esse dia pra fingir-se de irlandês e ter uma desculpa pra encher a cara.
Advogado, tradutor, carioca, 48 anos e morador de São Paulo. Há quase vinte anos atrás, sacerdotes e sacerdotisas me levaram para um templo entre mundos e me trouxeram de volta à vida – desde então, entre o staccato dos trovões, o tilintar de taças e um coral de risos eu faço meu ofício e desempenho meu papel entre os filhos dos Deuses Antigos.