Bruxaria Draconiana

Um lugar para falar de Bruxaria, Dragões, e Religiosidade.

Da Preparação dos Ritos

Os Deuses amam o belo.

É preciso deixar claro que o belo a que me refiro  é aquele que transcende a beleza física, o agradável em um sentido além do puramente estético: a beleza que nasce de ritos verdadeiramente plenos de significado e dedicados de corpo e alma à celebração dos mistérios dos Antigos Deuses.

Quem já teve a chance de testemunhar um rito assim, sabe que tais ritos são inesquecíveis para aqueles que o testemunham, seja em ofício ou como participantes. O que diferencia um ritual memorável de um ritual comum?.

Qual o segredo?

O segredo, penso eu, passa pela preparação. É bastante complexo falar de preparação para rituais religiosos, já que estes não são definitivamente previsíveis nem se comportam, na maioria das vezes, como relógios.  Escrever um script (e tentar com todas as forças se ater a ele) pode ser a causa de uma grande frustração e acabar arruinando o ritual. No entanto, é importante prever as necessidades dos oficiantes e as linhas gerais do ritual, envolvendo aspectos essenciais, tais como:

Materiais a ser utilizados

Nunca subestime o poder de uma lista. Lembre-se de circular esta lista por todos os presentes, para ter certeza que todas as necessidades sejam atendidas. Nunca se esqueça de incluir itens de utilidade geral, como saca-rolhas, abridores de garrafa, sacos de lixo, papel higiênico, isqueiros, velas extras, aspirinas, repelente, uma lanterna e afins.

Os materiais que irão ser utilizados no ritual devem ficar prontos e ao alcance da mão.

Preparação do Local

Uma visita prévia ao local onde o ritual irá se desenrolar é sempre indicada, de preferência próxima ao horário-alvo. Verificar as condições de iluminação, limpeza e segurança é extremamente importante. Se os participantes irão sentar no chão, lembre-se de retirar cacos, pedras e galhos da área. Verifique outros fatores – é difícil conduzir uma meditação guiada em cima de um formigueiro, por exemplo.

Se for um lugar público, recomendamos o contato com a região administrativa local ou o órgão que toma conta do local. As liberdades constitucionais de livre credo e direito de ir e vir não excluem sua obrigação de informar o poder público de reuniões e cultos, inclusive para sua própria segurança.

Por fim, deixe o lugar exatamente como o encontrou.

Segurança

Nunca pense que seu altar nunca vai pegar fogo. Deixe sempre pelo menos um copo de água próximo, e tente usar materiais não inflamáveis, especialmente nos tecidos que cobrem o altar.

Se o piso é irregular, não execute ritos que envolvam lâminas afiadas e movimentações rápidas. Se você conseguir que seu ritual seja seguro para uma criança de oito anos, provavelmente será seguro para todos os participantes.

Vestuário – O hábito pode não fazer o monge, mas quem disse que somos monges? O bruxo deve se utilizar de todas as ferramentas à sua mão, como por exemplo o subconsciente e o uso inteligente da voz, do gestual, de fragrâncias e iluminação. O uso de vestes consagradas é uma prática bastante comum – e se este for o caso não se esqueça de providenciar um lugar adequado para que os participantes possam se trocar e guardar suas vestes “civis”.

Alimentação – Se seu ritual tem a chance de se estender por mais de duas ou três horas, lembre-se de providenciar lanches rápidos. Um estômago roncando é a pulsão mais primal do homem e pode se sobrepor ao estado alterado de consciência que você planejou com todo o cuidado. Não se esqueça de conhecer as necessidades específicas de cada membro, tendo certeza que conhece aqueles que são diabéticos ou alérgicos a algum tipo de alimento, por exemplo.

Transporte – Para cada cinco pessoas eleja um responsável pela orientação, que fornecerá seu celular para o grupo e será o responsável por se assegurar que aquele grupo chegue e parta em segurança ao local do rito. Prepare mapas e distribua por email com uma semana de antecedência; se alguns membros dispuserem de carros e quiserem oferecer caronas, priorize os mais idosos e enfermos, em seguida as mulheres e crianças. Desta maneira, com um pouco de organização você poderá ter certeza que todos chegarão e partirão sãos e salvos – e esta é uma preocupação mais do que válida nos grandes centros urbanos.

Todo rito é uma troca, não somente entre os presentes mas entre os olhos visíveis e invisíveis. Um ritual pagão, diferente de outras tantas outras fés, requer participação ativa dos presentes para que essa troca se concretize e beneficie a todos. Uma Alta Sacerdotisa uma vez me disse que “ritos só se mantém pelos laços que criam com cada membro do círculo“, e essa é  a mais pura verdade.

Um rito executado tão somente pelos sacerdotes gera um risco enorme de (i) se tornar enfadonho e dissipar toda a energia gerada e (ii) colocar o sacerdote em uma posição equivocada de “dublê tabajara do deus/deusa” e não de representante da mesma. Existem diversas técnicas que podem e devem ser utilizadas para gerar o envolvimento dos presentes, desde a descentralização de tarefas até a construção do rito por cada um dos presentes – poder dividido é poder duplicado.

A percepção dos sacerdotes deve passar pelos membros do círculo como a de um maestro: verificar a sintonia de cada um, ajustando cada membro ao grupo e ao ritual, sem criar dissonâncias e toreando cada problema sem que esse possa aparecer, sem que permita que o todo se desfoque.

O Ritual não é um palco. Se no seu rito há protagonistas, palco, holofote e platéia, isto não é religião – isto é teatro.

Cada Ritual é uma dança, um concerto, uma maneira de observar dentro de um espaço sagrado um Deus ou Deusa que dança, brinca e sorri dentro da face de um irmão ou irmã. É o tecer do tear formado por nossas breves existências nas terras dos Deuses, dando ponto e sustentação a cada fio do tear, sem permitir que nossas imperfeições criem nós ou enredem outros padrões.

Guie a dança, não seja a dança.

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